05/06/2025 4u698
Entre os dias 19 e 22 de maio, o Gambá esteve em Recife (PE) participando do encontro de projetos do Fundo Casa Socioambiental. Com a presença de dezenas de organizações e movimentos sociais do Nordeste, além de diversas entidades ambientalistas, o evento foi um importante momento para compartilhar experiências, fortalecer iniciativas conjuntas, como as Salvaguardas Socioambientais de Energia Renovável, e debater desafios da conjuntura política.
“Esses espaços também são espaços de troca, de fortalecimento e que as comunidades estão alcançando também, né? Não é somente as pessoas que já têm um tempo de luta, que já conseguem estar sempre nesses espaços”, destaca Sandreia Barreto, da Associação da Comunidade do Deserto, em Ibitiara (BA).
Apesar das diferentes realidades, as organizações presentes trazem em comum o enfrentamento aos impactos da transição energética em seus territórios, sobretudo os que envolvem energia eólica e solar. Na associação que Sandreia faz parte, por exemplo, o foco do projeto desenvolvido é mapear os quintais agroecológicos liderados por mulheres em comunidades afetadas por empreendimentos de energia renovável. A jovem destaca que o encontro trouxe importantes reflexões que serão compartilhadas em sua comunidade, fortalecendo os enfrentamentos no seu território.
“A partir dessas trocas a gente leva para casa muitas ideias, muitas possibilidades e pensar nessa questão do coletivo mesmo, né? Porque sozinho a gente não chega muito longe não, mas na coletividade a gente alcança o mundo”, salienta.
Luta coletiva contra os megaempreendimentos
Ao longo da programação do encontro, foram debatidos diversos impactos sofridos pelas comunidades por conta da chegada de megaempreendimentos de energia eólica e solar. Dentre as experiências, está a de Mário Elder, liderança da pesca artesanal da Comunidade Tradicional de Icaraí de Amontada (CE), e integrante da EcoMaretório. Pescador há quase 35 anos, Mário conta que tem sentido na pele as contradições da construção de usinas eólicas na sua região. Dentre elas, o fato de estar cercado de torres de energia e viver numa comunidade que lida com a constante falta de eletricidade.
“O Icaraí, lá no meu Ceará, é um dos locais de um potencial grandioso de turistas. Mas a população vive sofrendo demais tendo prejuízo com falta de energia. E, por incrível que pareça, a gente está cercado dessas usinas eólicas. O Icaraí, além de se pagar uma energia caríssima, é o local que mais falta energia, eu acho”, desabafa o pescador.
Mário também salienta a importância do Nordeste Potência, coletivo formado por movimentos e comunidades afetadas pelos projetos de energia renovável. Para ele, a organização coletiva e articulação entre as diversas organizações é o caminho para se enfrentar as empresas que estão por trás desses empreendimentos.
“Eu acho que a nossa luz, o nosso caminho, não é a gente engrandecer aqui ninguém, mas a gente fortalecer esse Nordeste Potência. Ele é o nosso caminho. Se a gente destacar o movimento Nordeste Potência, a gente vai conseguir confrontar as eólicas”, salienta.
Quem também destaca a importância do Nordeste Potência para o enfrentamento aos impactos da transição energética é Rozeane Mendes, da coordenação da Associação Crioulas em Resistência, que fica no Quilombo Conceição das Crioulas, em Salgueiro (PE). O projeto desenvolvido pela associação é voltado para formação de agentes multiplicadores de informação sobre o direito de o à terra e monitoramento de impactos para as Salvaguardas Socioambientais. Embora sua comunidade não seja afetada diretamente por um empreendimento de energia, Rozeane explica que as comunidades quilombolas do seu entorno estão sofrendo com as linhas de transmissão, e que é necessário se somar a elas no enfrentamento a essas construções.
“A gente é vizinho do município de Mirandiba e a rede de transmissão de energia está cortando 12 comunidades quilombolas. Doze só em um município. Imagina o estrago que não faz”, alerta.
Rozeane aponta a importância do encontro para a associação “se planejar, se fortalecer, conhecer juridicamente algumas formas de enfrentamento”, como é apontado em algumas das salvaguardas socioambientais. Por isso, ela destaca a necessidade do coletivo ser ampliado e chegar em ainda mais comunidades que ainda não têm essa formação e organização.
“Tem muitas comunidades que são atingidas e que a gente não sabe como lidar com os processos. Eu acho que o Nordeste Potência pode ter esse papel de fortalecer as comunidades junto com a gente. E quem sabe daí nascer uma parceria para futuras ações das nossas comunidades”, reflete.